Eleição do novo Papa: Uma surpresa boa!



Cleverson Amaro[1]

Confesso que fiquei surpreso com a eleição do Cardeal Jorge Mario Bergoglio para ser o sucessor de Pedro na Igreja Católica. Entretanto, como me disse um professor da PUC-SP: “foi uma surpresa boa”. Surpresa boa porque ficou um clima de mudança no ar; ficou um ar de proximidade entre Igreja e fiéis. O carinho dos fiéis que esperavam ansiosos pela fumaça branca, pelo anúncio do habemos Papam e, posteriormente, para ver o rosto do novo Papa, foi retribuído com um gesto de humildade de quem tem consciência de que não dá para caminhar sozinho. Ao inclinar-se para os fiéis e pedir a bênção, o recém-Papa, com este simples gesto, convida a todos para caminharem com ele. Este é o papel do pastor. Jesus Cristo quis caminhar em comunidade. É herança dele. O discipulado surgiu assim.
Outra surpresa boa foi a escolha do nome: Francisco. Logo pensei em Francisco de Assis que surgiu em um momento em que urgia uma mudança de postura não somente por parte dos fiéis, mas principalmente por parte da Igreja em relação aos fiéis. Em nossos dias sentimos a necessidade de mudança, e não é uma mudança qualquer não. É uma mudança em que o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo precisa ficar em evidência, precisa ser encarnado pelos pastores e pelos fiéis. Lembro-me, lendo as fontes franciscanas, que o Papa da época de Francisco de Assis ficou escandalizado quando, no primeiro encontro com Francisco, este disse que a sua regra de vida e de seus companheiros era viver o Evangelho, ou seja, outros valores não essenciais haviam tomado grande parte da atenção e do coração do clero e fiéis da época em que brotou a Ordem Franciscana que encontrar alguém disposto a viver o Evangelho na radicalidade (na raiz) era escândalo.

A escolha do nome de um “reformador apaixonado” pela Igreja traz muitas expectativas. Francisco foi um grande reformador, entretanto, a diferença entre ele e os outros reformadores é abissal, pois Francisco de Assis começou reformando o seu próprio coração; é uma reforma ousada e corajosa, pois exige abertura diante do novo e às vezes esse novo é um voltar-se para os valores fontais que ficaram esquecidos. Francisco foi um homem que avançou voltando ao passado para resgatar o Evangelho.  Às vezes é necessário voltarmos atrás e resgatarmos o que perdemos de vista, só assim poderemos caminhar em busca de mudança sem perder a identidade. Se assim não for vira confusão. Quando não se tem clareza diante da identidade é fácil ser influenciado ou confundido pela realidade que a cada instante nos mostra um “valor” diferente. O mundo de hoje carece de pessoas que tenham identidade, de instituições que tenham identidade.

Mudar não é se secularizar, não é deixar uma identidade para adquirir outra, não é abrir mão do Evangelho, uma vez que este é sempre atual para quem tem sabedoria, não é colocar roupas novas em manequins velhos, mas é um voltar-se para si e, diante da reflexão daquilo que é essencial e deve ser conservado tornar viva, atual e dinâmica a Palavra de Deus, principalmente através do testemunho.

Eu desejo que o Papa Francisco seja este “reformador apaixonado” pela Igreja como foi Francisco de Assis que fez questão de expressar por escrito, em sua regra de vida, sua obediência ao Papa e à Igreja. Quem assim procede pode falar como um irmão que fala para o outro irmão ou então como um filho que fala ao pai, ou um pai que fala ao filho, senão... são palavras jogadas ao vento que, como carroças vazias, só fazem barulho, mas o interior está vazio.



[1] Graduado em Filosofia pela Faculdade Arquidiocesana de Filosofia – Curitiba - PR. Bacharelando em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Trabalha como Agente de Pastoral Escolar, na Formação Humana e Filosofia Institucional do EXTERNATO SANTO ANTONIO.

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