O que é Espiritualidade?

O que é espiritualidade na perspectiva de São Luís Scrosoppi?





O estilo que padre Luís transmitiu é feito de responsabilidade, de coragem, de ternura, de confiança e de alegria; exige a generosidade da maternidade e a humildade de quem espera do Céu todo Dom de vida. É um respiro que interessa à todas as pessoas nas suas relações, no trabalho e nos compromissos simples e complexos, felizes e dolorosos de cada dia. É um caminho seguro que dá forma concreta aos sonhos e à esperança. É o modo simples através do qual o quotidiano se enriquece do seu senso espiritual e a profecia adquire a consistência do humano. É a espiritualidade da encarnação[1].





A palavra espiritualidade pode designar, num primeiro momento, algo de chique, fino; espiritual, por sua vez, algo etéreo, sublime, superior, não corporal, diferente do material, aquilo que não é palpável, alguma coisa relativo à religião ou próprio dela. E, quando se fala espírito, usualmente se confunde com fantasma ou assombração, ou, pode evocar também, às vezes, algo como força, vigor e vitalidade.

Mas, e quando falamos de tudo isso dentro da vida cristã e para educadores cristãos? Qual sentido vem à nossa mente quando mencionamos o termo Espiritualidade?

A Espiritualidade é uma ciência toda própria que não pode ser comparada e, muito menos ainda, descrita e captada através de outras ciências, principalmente, das ciências positivas. Assim, se por acaso num curso de Teologia ou de formação religiosa houver uma cadeira de Espiritualidade, a primeira coisa que o “professor” vai fazer é explicar e mostrar aquilo que esta matéria não é. Dirá, por exemplo, que ela não é um Tratado de Devoções e de Exercícios de piedade. Dirá enfim que a Espiritualidade não é ciência, mas Mística, isto é, uma matéria, um estudo das coisas divinas.

O fato de, quase, só se saber dizer o que a Espiritualidade não é, revela que ela só pode ser explicada e entendida por ela mesma. Explicar a Espiritualidade por ela mesma significa entende-la a partir de dentro, procurando ver e colher suas características próprias, sua estrutura, organização e natureza. É ver e estudar todo seu modo próprio de ser: como ela nasce, cresce e se desenvolve. Entender e explicar assim a Espiritualidade é entendê-la como ciência, como conhecimento, na acepção mais original, mais abrangente e mais rica. Um conhecimento assim é também conascimento, ou seja, um “nascer junto”, um “nascer com”.  É um identificar-se com aquilo que faz e se fazer junto com aquilo que ensina. Nesse sentido, por exemplo, um professor que dá aula de matemática passa a viver aquilo que faz e não o faz como algo desvinculado de sua vida, mas assume isso como uma maneira de ser. Isso faz com que o seu modo de ensinar e de ser educador não se restrinja somente a uma sala de aula, mas, em qualquer lugar em que ele esteja está sendo um educador e transmitindo vida.

Quem estuda e educa desse jeito torna-se sempre novo e nasce sempre de novo no Espírito da sabedoria. É um envolver-se na vida das pessoas que são atingidas pelo conhecimento transmitido.

Na pessoa do Padre Luís Scrosoppi é perceptível esse modo de proceder. Ele era uma pessoa tão espiritualmente edificada que, onde estivesse, as pessoas sentiam-se edificadas pela sua presença. Assim, não raro, lemos nos depoimentos de pessoas que tiveram contato com Padre Luís que falam da edificação que tiveram observando o seu testemunho de vida.

A relação que padre Luís tinha com as pessoas não era puramente funcional ou voltada apenas para as necessidades materiais ou espirituais, mas era uma relação de encontro em que as pessoas sentiam-se amadas e percebiam um impulso para serem elas mesmas. As meninas viam-se envoltas por um ambiente de Conascimento, entretanto, isso só existe se a pessoa vive e convive com a realidade em que estuda.

Assim, por exemplo, um europeu que, por longos anos, se dedica ao estudo do homem do nordeste brasileiro, habitando e convivendo com ele, aos poucos, vai assumindo uma nova identidade, e uma nova pessoa vai nascendo, tornando-se, também ele, nordestino.

Quem estuda e convive em um ambiente que nasceu a partir da experiência deixada por Padre Luís vai, aos poucos, deixando-se envolver por um espírito educador em que a arte de educar está no conhecer, entender e na disponibilidade para receber e doar conservando sempre o diálogo e o amor ao próximo.

Na perspectiva supracitada, espiritualidade não uma coisa fora da realidade e separada do que fazemos; não é uma atividade e um privilégio somente de quem se dedica a exercícios espirituais[2], mas, está intrinsecamente ligada àquilo que fazemos. Viver intensamente buscando o essencial de cada coisa tentando compreendê-la a partir daquilo que ela é e não a partir daquilo que queremos que ela seja, é viver a espiritualidade; é um aplicar-se para mostrar o sentido daquilo que fazemos e ensinamos como educadores.

Quem vive a partir da dinâmica da Espiritualidade, a exemplo de Padre Luís, ensina com o testemunho e assim, trabalha na hora de trabalhar, brinca na hora de brincar, reza na hora de rezar, repreende quando há necessidade de repreender, mas está sempre gerando vida, sempre sendo educador, em qualquer circunstância.

Estar na dinâmica da Espiritualidade é estar atento para a exigência imediata da situação, é ver a realidade com olhos que geram vida. Ser Espiritual é estar disposto a deixar-se ensinar pela vida. Estar envolto pela Espiritualidade é ensinar aquilo que acredita e viver aquilo que se ensina.

Portanto, na busca pelo autoconhecimento e a identificação com aquilo que faz, o educador do ESA vive a espiritualidade marcada pela ternura e pela firmeza orientando suas ações educativas para ampliar o conhecimento das pessoas a serviço da verdade, da justiça, da ciência e de Deus. 



Referências



ALVES, F. Vida do Servo de Deus P. Luís Scrosoppi. São Paulo: Ave Maria, 1958.



FASSINI, D. Leitura Espiritual. Petrópolis: Vozes, 1996.



HARADA, H. Em Comentando I Fioretti: Reflexões Franciscanas Intempestivas. 2. ed. rev. Bragança Paulista: Editora Universitária São Francisco: Instituto Franciscano de Antropologia, 2006.



HARADA, H. Coisas Velhas e Novas: à margem da Espiritualidade Franciscana. Bragança Paulista: Editora Universitária São Francisco: Instituto Franciscano de Antropologia, 2006.



Um Caminho de Providência: São Luís Scrosoppi, Sacerdote do Oratório de São Felipe Neri e fundador das Irmãs da Providência.  



[1] Do livro Um Caminho de Providência: São Luís Scrosoppi, Sacerdote do Oratório de São Felipe Neri e fundador das Irmãs da Providência.
[2] Exercícios Espirituais aqui se entende como: orações, jejuns, retiros e outros atos de piedade.






São Francisco de Assis. Fernando Ikoma.

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