A experiência Religiosa: uma experiência humana
Antes de entrarmos a
fundo no desdobramento da questão sobre a experiência religiosa faz-se mister
salientar que esta experiência acontece num ambiente bem humano.
Embora a experiência
religiosa nos remeta à busca da transcendência, trata-se de uma experiência
humana que é influenciada pelo jeito de ser e pelo contexto histórico e
cultural.
Em primeiro lugar a
experiência religiosa, como experiência humana, está envolvida em uma vivência
relacional. O ser humano é um ser de relações e, sendo assim, necessita estar
ligado à outra dimensão para ter consciência de sua singularidade. Assim, busca
uma relação com o mundo[2],
com outro indivíduo e com o grupo humano[3]. O
trabalho, o transporte, a alimentação, os encontros e reuniões, as festas, os
meios de comunicação, tudo isso faz com que o ser humano esteja sempre em
sociedade.
A
experiência individual
Além dessa necessidade de
estar em sociedade convivendo com demais indivíduos, o ser humano possui a
dimensão individual dos desejos, projetos, realizações ou frustrações que são
componentes de qualquer pessoa.
Durante a sua existência,
cada ser humano constrói um projeto de vida e procura realizá-lo. Nessa
perspectiva entendemos que o ser humano oscila entre o subjetivo e o
intersubjetivo, buscando sempre nas suas relações e em tudo o que faz a
plenificação. É um ser de necessidades.
Mesmo com todas as
necessidades, o ser humano tende à totalidade. Isso se faz presente com mais
notabilidade diante das limitações humanas e na tentativa de superá-las. Assim, o ser humano procura romper com os
próprios limites. De acordo com José Severino Croatto, o romper com esses
limites “é uma miragem, uma utopia,
algo que não existe em lugar algum. Nega o limite, como anula a necessidade.
Nega a limitação do bom e a irrupção do mau[4]”.
Nesse sentido é
necessário compreender a relevância do tema da salvação na perspectiva
religiosa, pois o ser humano será sempre, na realidade, menos do que deseja ser; e no desejo, um mais que não se concretiza por inteiro. Isso justifica a constante
busca pela plenificação que o conduz à busca da experiência religiosa.
Experiência religiosa
A experiência religiosa
está fundada nas raízes da experiência e tende a expressar-se por meio da palavra,
da práxis sócio-histórica, da cultura, da arte e de outros instrumentos de
comunicação que ela possa encontrar. Sendo assim, de acordo com Paul Tilich, apud Croatto[5], a
experiência religiosa se dá no geral. O que muda é a relação com o sagrado ou
com o mistério. A experiência religiosa é relacional, pois, relaciona-se com o
humano e com o transcendente.
Em todos os tempos o ser
humano trouxe inquietações referentes à existência e, juntamente com isso,
buscou respostas para superar suas limitações instância religiosa. Na dimensão
transcendente o homem busca o passamento do fragmentário ao totalizador em que
se plenifica o bem, a felicidade, o descanso que são plenificantes para o ser
humano.
Por ser a experiência
religiosa uma experiência humana, sua relação com o sagrado é essencial e não
há uma experiência religiosa que não almeje a salvação.
Nessa experiência
religiosa o homem se utiliza símbolos para expressar sua experiência. Isso
deve-se à incapacidade, de acordo com Penzo e Gibellini[6],
dos instrumentos cognoscitivos humanos, por isso, através dos termos ligados à
experiência natural, que assumem um valor simbólico, é possível exprimir o que
se está sentindo.
Entretanto, mesmo utilizando
todos os recursos possíveis o homem é incapaz de elaborar um conceito de Deus. Segundo
Gibelline[7], o
teólogo, por exemplo, faz teologia e deve falar de Deus, mas as suas palavras
continuarão sendo, em suma, palavras humanas, e nunca podem ser a palavra viva
de Deus. A teologia cristã fala de Deus, mas não pode fazer um discurso sobre
Deus, pois,
Deus não é um objeto sobre o qual se possa falar de
uma perspectiva neutra, sendo Ele a realidade que determina toda a realidade e,
portanto, falar sobre Deus
significaria possuir um ponto arquimediano situado fora da realidade[8].
Cabe aqui ressaltar que o Deus de que
falamos na Teologia é um Deus que vem ao encontro do homem, é um Deus que se
relaciona conosco, que se faz evento na revelação. Deus é, assim evento. A
teologia fala de Deus com base na revelação cujo acolhimento é a fé. A fé é,
assim, o ponto que torna possível falar de Deus. Aqui fica claro, no entanto,
que para falar de Deus é possível se
falamos da sua palavra a nós dirigida, da sua ação a nós dirigida. Não há
discurso de Deus que não seja ao mesmo tempo discurso do homem; a teologia fala
de Deus enquanto tem a ver com o homem.
Diante
do que foi pesquisado fica claro que a experiência religiosa é uma experiência
humana, portanto, buscada por todos. A busca pela experiência religiosa deve
ser uma busca de comprometimento consigo mesmo e com o próximo para que reflita
na dimensão social o amor com que Deus amou a todos.
Pensar
a experiência religiosa ligada à uma experiência humana é aproveitar tudo o que
o ser humano tem e orientar para uma dimensão maior. Isso não significa que o
ser humano vai perder sua identidade, ele vai apenas buscar vivê-la a partir de
sua originariedade, a saber, como imagem e semelhança de Deus.
Referência Bibliográfica
CROATTO,
J. S. As Linguagens da experiência
Religiosa: uma introdução à fenomenologia
da religião. Trad. Carlos Maria Vázquez Gutiérrez. São Paulo: Paulinas,
2001.
GALIMBERTI,
U. Rastros do Sagrado. Trad.
Euclides Luiz Calloni. São Paulo: Paulus, 2003.
PENZO,
G.; ROSSINO, G. Deus na Filosofia do
Século XX. Trad. Roberto Leal Ferreira. São Paulo: Loyola. 1998.
[1]
Graduado em Filosofia pela Faculdade Arquidiocesana de Filosofia – Curitiba -
PR. Bacharelando em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo. Trabalha como agente de Pastoral na rede particular de ensino.
[2]
Entende-se aqui por relação com mundo, a relação com a natureza, com a vida e
tudo o que realidade oferece.
[3] O
ser humano socializa-se, de uma forma ou de outra, em diferentes níveis:
família, clã, etnia, bairro, município, estado, nação, clube, associação,
fraternidade, Igreja, partido político etc.
[4]
CROATTO, J. S. As Linguagens da
experiência Religiosa: uma introdução à
fenomenologia da religião. Trad. Carlos Maria Vázquez Gutiérrez. São
Paulo: Paulinas, 2001, p. 43.
[5] Ibidem. p. 44.
[6]
PENZO, G.; ROSSINO, G. Deus na Filosofia
do Século XX. Trad. Roberto Leal Ferreira. São Paulo: Loyola. 1998. p. 319.
[7] Ibidem, p. 632.
[8] Ibid. 634.
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