A experiência Religiosa: uma experiência humana


 Cleverson Amaro de Jesus[1]


 
Antes de entrarmos a fundo no desdobramento da questão sobre a experiência religiosa faz-se mister salientar que esta experiência acontece num ambiente bem humano.
Embora a experiência religiosa nos remeta à busca da transcendência, trata-se de uma experiência humana que é influenciada pelo jeito de ser e pelo contexto histórico e cultural.
Em primeiro lugar a experiência religiosa, como experiência humana, está envolvida em uma vivência relacional. O ser humano é um ser de relações e, sendo assim, necessita estar ligado à outra dimensão para ter consciência de sua singularidade. Assim, busca uma relação com o mundo[2], com outro indivíduo e com o grupo humano[3]. O trabalho, o transporte, a alimentação, os encontros e reuniões, as festas, os meios de comunicação, tudo isso faz com que o ser humano esteja sempre em sociedade.

 

A experiência individual



Além dessa necessidade de estar em sociedade convivendo com demais indivíduos, o ser humano possui a dimensão individual dos desejos, projetos, realizações ou frustrações que são componentes de qualquer pessoa.
Durante a sua existência, cada ser humano constrói um projeto de vida e procura realizá-lo. Nessa perspectiva entendemos que o ser humano oscila entre o subjetivo e o intersubjetivo, buscando sempre nas suas relações e em tudo o que faz a plenificação. É um ser de necessidades.
Mesmo com todas as necessidades, o ser humano tende à totalidade. Isso se faz presente com mais notabilidade diante das limitações humanas e na tentativa de superá-las.  Assim, o ser humano procura romper com os próprios limites. De acordo com José Severino Croatto, o romper com esses limites “é uma miragem, uma utopia, algo que não existe em lugar algum. Nega o limite, como anula a necessidade. Nega a limitação do bom e a irrupção do mau[4]”.
Nesse sentido é necessário compreender a relevância do tema da salvação na perspectiva religiosa, pois o ser humano será sempre, na realidade, menos do que deseja ser; e no desejo, um mais que não se concretiza por inteiro. Isso justifica a constante busca pela plenificação que o conduz à busca da experiência religiosa.


Experiência religiosa

A experiência religiosa está fundada nas raízes da experiência e tende a expressar-se por meio da palavra, da práxis sócio-histórica, da cultura, da arte e de outros instrumentos de comunicação que ela possa encontrar. Sendo assim, de acordo com Paul Tilich, apud Croatto[5], a experiência religiosa se dá no geral. O que muda é a relação com o sagrado ou com o mistério. A experiência religiosa é relacional, pois, relaciona-se com o humano e com o transcendente.
Em todos os tempos o ser humano trouxe inquietações referentes à existência e, juntamente com isso, buscou respostas para superar suas limitações instância religiosa. Na dimensão transcendente o homem busca o passamento do fragmentário ao totalizador em que se plenifica o bem, a felicidade, o descanso que são plenificantes para o ser humano.
Por ser a experiência religiosa uma experiência humana, sua relação com o sagrado é essencial e não há uma experiência religiosa que não almeje a salvação.
Nessa experiência religiosa o homem se utiliza símbolos para expressar sua experiência. Isso deve-se à incapacidade, de acordo com Penzo e Gibellini[6], dos instrumentos cognoscitivos humanos, por isso, através dos termos ligados à experiência natural, que assumem um valor simbólico, é possível exprimir o que se está sentindo.
Entretanto, mesmo utilizando todos os recursos possíveis o homem é incapaz de elaborar um conceito de Deus. Segundo Gibelline[7], o teólogo, por exemplo, faz teologia e deve falar de Deus, mas as suas palavras continuarão sendo, em suma, palavras humanas, e nunca podem ser a palavra viva de Deus. A teologia cristã fala de Deus, mas não pode fazer um discurso sobre Deus, pois,


 
Deus não é um objeto sobre o qual se possa falar de uma perspectiva neutra, sendo Ele a realidade que determina toda a realidade e, portanto, falar sobre Deus significaria possuir um ponto arquimediano situado fora da realidade[8].

Cabe aqui ressaltar que o Deus de que falamos na Teologia é um Deus que vem ao encontro do homem, é um Deus que se relaciona conosco, que se faz evento na revelação. Deus é, assim evento. A teologia fala de Deus com base na revelação cujo acolhimento é a fé. A fé é, assim, o ponto que torna possível falar de Deus. Aqui fica claro, no entanto, que para falar  de Deus é possível se falamos da sua palavra a nós dirigida, da sua ação a nós dirigida. Não há discurso de Deus que não seja ao mesmo tempo discurso do homem; a teologia fala de Deus enquanto tem a ver com o homem.

Diante do que foi pesquisado fica claro que a experiência religiosa é uma experiência humana, portanto, buscada por todos. A busca pela experiência religiosa deve ser uma busca de comprometimento consigo mesmo e com o próximo para que reflita na dimensão social o amor com que Deus amou a todos.

 Pensar a experiência religiosa ligada à uma experiência humana é aproveitar tudo o que o ser humano tem e orientar para uma dimensão maior. Isso não significa que o ser humano vai perder sua identidade, ele vai apenas buscar vivê-la a partir de sua originariedade, a saber, como imagem e semelhança de Deus. 

           

Referência Bibliográfica  



CROATTO, J. S. As Linguagens da experiência Religiosa: uma introdução à fenomenologia da religião. Trad. Carlos Maria Vázquez Gutiérrez. São Paulo: Paulinas, 2001.

GALIMBERTI, U. Rastros do Sagrado. Trad. Euclides Luiz Calloni. São Paulo: Paulus, 2003.   

PENZO, G.; ROSSINO, G. Deus na Filosofia do Século XX. Trad. Roberto Leal Ferreira. São Paulo: Loyola. 1998.  



[1] Graduado em Filosofia pela Faculdade Arquidiocesana de Filosofia – Curitiba - PR. Bacharelando em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Trabalha como agente de Pastoral na rede particular de ensino.
[2] Entende-se aqui por relação com mundo, a relação com a natureza, com a vida e tudo o que realidade oferece.
[3] O ser humano socializa-se, de uma forma ou de outra, em diferentes níveis: família, clã, etnia, bairro, município, estado, nação, clube, associação, fraternidade, Igreja, partido político etc.
[4] CROATTO, J. S. As Linguagens da experiência Religiosa: uma introdução à fenomenologia da religião. Trad. Carlos Maria Vázquez Gutiérrez. São Paulo: Paulinas, 2001, p. 43. 
[5] Ibidem. p. 44.
[6] PENZO, G.; ROSSINO, G. Deus na Filosofia do Século XX. Trad. Roberto Leal Ferreira. São Paulo: Loyola. 1998. p. 319.
[7] Ibidem, p. 632.
[8] Ibid. 634.

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